sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A morte do cisne negro

 Eu sou aquela que está perdida, quebrada, destruída.

Acho que até gosto da ideia de ter minha mente tão obsoleta e tão devastada. Me acostumei com a falta de objetivos, de sonhos, de conquistas.

Todos os dias quando abro meus olhos, percebo que sou só uma pessoa ordinária, em um mundo tão ordinário quanto eu. Não que um dia eu vá fazer a diferença no meu mundo, não mais.

As diferenças que um dia eu quis fazer, eu fiz. Um coração partido, uma decepção me tiraram o restante daquele sangue que pulsava no meu corpo. Não posso culpar o outro quando eu mesma fiz todos os cortes no meu corpo para que o sangue simplesmente saísse e eu deixasse de existir. Mas por muito tempo eu queria tomar o veneno que matava minha mente e não consegui. 

Até hoje me alimento dessa alma envenenada, que com muito pouco abre os olhos diariamente e não me trás muitas alegrias. Sem um amor para amar, sem um objetivo para alcançar, sem uma alma para aquecer.

Há muito me deixei quebrar, quando percebi que o mundo gira em torno do dinheiro e da corrupção. Isso fez meus sonhos se quebrarem aos poucos, toda a tristeza que eu via a minha volta começou a fazer parte de mim. Tudo aquilo que eu não queria ser, aos poucos, foi possuindo todo o meu corpo.

A vida de adulta me ensinou a beber, a fuder e a me prostituir. 

A vida de adulta me ensinou que beber não afasta os problemas, só os deixam mais fundo na alma, esquecido por um tempo, adormecido ao sabor do álcool e da agitação do cotidiano.

A vida de adulta me ensinou a fuder, as vezes com minha vida, as vezes com a vida do outro, sabotando os sonhos deles e chamando isso de realidade, como se eu tivesse todas as respostas e todos os cenários montados dentro desse cérebro inútil.

A vida de adulta me ensinou a me prostituir, vender a minha alma a qualquer entorpecente, abrir as minhas pernas para qualquer um que fosse capaz de me fazer esquecer um pouquinho a minha mediocridade e minha falta de coragem. 

A vida de adulta me ensinou a morrer um pouquinho a cada dia, cada vez que o ar sai dos meus pulmões, eu desejo que seja o último. Cada lágrima que deixa meus olhos vermelhos no banho, eu peço que seja a última, cada piscar de olhos que teimam em ir sozinhos, eu grito que seja o último.

Não quero mais partilhar a dor, não consigo me curar sozinha e não sei pedir por ajuda, não escrevo esperando uma redenção, nem uma mão, escrevo para tirar desse peito sádico qualquer forma de dor, que machuca e arde e incendeia a minha mente, mas que teima em simplesmente permanecer aqui. Não consigo esquecer que por muitos anos eu podia sorrir com felicidade e então de uns sete anos até hoje, a única coisa que tenho feito é existir. Sobreviver a cada impulso de roubar a minha vida.

Já não quero mais sentir isso, não quero mais viver essa vida. Já posso começar a próxima, fora desse corpo de água e sem sentimentos.

Me pergunto todos os dias quando será a última vez em que precisarei fazer a cama, respirar, comer e existir. Queria ter uma forma de deixar tudo mais fácil e simplesmente deixar de viver, e ainda assim sou incapaz de chegar ao ato final e propor a morte do cisne negro.